terça-feira, 27 de março de 2012

DEUS IMUTÁVEL MUDA DE DECISÃO?


Esta é uma pergunta complexa e não há como respondê-la a contento com um simples ‘sim’ ou ‘não’.

Se a pergunta fosse: “Deus imutável muda?”, a resposta seria simples: Não! Ou seja, Deus é imutável por natureza.

Deus santo é santo pela eternidade! Deus poderoso é poderoso por toda eternidade. Ele é eterno e sempre será eterno. Ele é santo e jamais oprimirá alguém. Ele é justo e jamais cometerá injustiça. Os atributos da divindade não são passiveis de mudança.

Somente após analisar os elementos que compõe a pergunta será possível ao leitor concluir porque a pergunta é descabida. Esta pergunta relaciona dois elementos distintos sobre a divindade: a) a natureza imutável de Deus, e; b) as decisões de Deus, o que torna complexa a resposta.

a)      Sobre a natureza de Deus sabemos através da bíblia que Ele é imutável. Estamos falando especificamente da natureza divina. Deus não muda, pois Ele sempre foi e será onipresente, onipotente, onisciente, verdadeiro, santo, etc. Quanto à natureza divina são estes elementos que o torna único! Não há outro ser que um só destes atributos faça parte de sua essência "Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança" Tg 1: 17. É sobre estes atributos que Tiago fez alusão neste versículo!

b)      Se alguém perguntar: “Há alguma possibilidade de Deus mudar em sua essência?” A resposta sempre será negativa! Deus é Espírito Eterno, Criador e não criatura. Da mesma forma que as criaturas de Deus não podem mudar a sua própria natureza, o Criador não muda em sua essência. Como não há ninguém acima de Deus que possa promover uma mudança em sua natureza, pela eternidade não haverá mudança em sua essência.

Voltemos à pergunta feita. "Deus imutável muda de decisão?" possui um pequeno entrave! Ela contém uma afirmação sobre à natureza divina (Deus imutável...), e uma pergunta de cunho comportamental (... muda de decisão?).

Ou seja, a pergunta procura conciliar uma afirmação sobre a natureza de Deus (imutável), e se Ele pode mudar de decisão (comportamento).

Por tentar conciliar em uma só pergunta elementos diferente a resposta é complexa, e não é possível respondê-la com um simples 'sim', ou um 'não'. Já dissemos: 'Deus imutável pode mudar?', a resposta é: não!.

Da mesma forma que a pergunta anterior, temos: Deus onisciente poderia não conhecer alguma coisa? A resposta também é 'Não'! Há alguma coisa impossível para Deus? Não!

Para responder a pergunta é preciso considerar que:

1)      Deus imutável é conhecedor de todas as coisas e nunca mudou os seus propósitos, e;
2)      Deus imutável é conhecedor de todas as coisas e também decide segundo as circunstâncias.

É preciso muito cuidado ao formular perguntas! Veja a seguinte pergunta de um agnóstico: “Pode Deus todo poderoso criar uma pedra que nem ele mesmo possa levantar?”.

A pergunta é contraditória em si mesma! De quanto 'poder' seria necessário? A questão deste agnóstico tenta colocar o poder de Deus em contradição (choque) com a sua força.

A bíblia é clara: Deus não pode negar a si mesmo! Porém, Deus pode mudar de decisões! Observe:

“Então, se arrependeu o SENHOR do mal que dissera havia de fazer ao povo. E, voltando-se, desceu Moisés do monte com as duas tábuas do Testemunho nas mãos, tábuas escritas de ambos os lados; de um e de outro lado estavam escritas" Ex 32: 9- 15.

O propósito imutável em Deus – Deus deseja que todos se salvem e que venham ao conhecimento da verdade “... o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” I Tm 2: 4. Este é um propósito imutável em Deus! Antes mesmo da fundação do mundo Deus providenciou o Cordeiro (Cristo), o qual foi morto e entregue por toda a humanidade. Na questão relativa à salvação dos homens Deus é imutável em seu propósito! Ele é poderoso em salvar, quer salvar e efetua a salvação dos homens Fl 2: 13;

O comportamento de Deus – Deus comporta-se em conformidade com sua santidade, justiça e amor. Através destes atributos eternos e imutáveis Deus relaciona-se com suas criaturas. Deus é santo e não compactua com o mal; Deus é santo e não oprime ninguém; Deus tem todas as criaturas como objeto do seu amor, mas a ninguém favorece; ao culpado Deus não toma por inocente; Ele não faz acepção de pessoas, etc.;

Deus soberano e o livre arbítrio – parece conflitante Soberania X Livre arbítrio, no entanto, em Deus não há contradição alguma em criar criaturas livres para tomarem decisões. É por isso que os serafins louvam a Deus, o Senhor dos Exércitos com um coro de Santo, Santo, Santo, em lugar de o louvarem como Poderoso. Ou seja, Deus Todo Poderoso não utiliza o seu poder para oprimir ou obrigar que as suas criaturas o sirvam;

Deus altera as suas decisões quando age segundo o seu amor e justiça – O propósito imutável de Deus é quanto a salvação. Por meio do seu amor Deus propõe vida àqueles que diante da Sua justiça estão mortos (em delitos e pecados). Deus age e comporta-se segundo estes três atributos. Deus em amor oferece oportunidade impar de salvação; mas, quanto a sua justiça, o mesmo pecador que é alvo do seu amor, caso não se arrependa, receberá de Deus o que estipula a sua retidão;

Deus relaciona-se com as suas criaturas – Com Adão Deus procurou estabelecer uma relação pautada na confiança mútua; com os seus servos, ele procura relacionar-se não como Senhor e servo, antes como amigos. Por isso Abraão foi chamado amigo de Deus! Jesus deixou isto bem claro: “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” Jo 15: 15. Quando Deus conversou com Moisés no cume do monte, não foi uma conversa de divindade e adorador, antes uma conversa entre amigos. Pautado em uma relação de confiança Deus conversa com o seu amigo esclarecendo-lhes o que haveriam de fazer;

As suas criaturas precisam conhecê-lo – Deus quis revelar-se as suas criaturas (e se revelou), tanto que se fez homem e habitou entre nós. Deus demonstra que é imutável quanto a sua natureza, mas demonstra-se flexível quanto as suas decisões! As decisões de Deus frente as suas criaturas são condicionadas, e não inflexíveis. Quando o homem arrepender-se, ele perdoa e restaura; Quando o homem é de dura cerviz, receberá o que é concernente a justiça e retidão divina. As decisões de Deus são condicionadas à natureza de suas criaturas. No entanto, estas decisões são imutáveis: diante do culpado ele é imutável segundo a sua essência: Não terá o culpado por inocente! Diante do inocente, é impossível Deus mudar e condená-lo: Deus não terá o inocente por culpado!

Deus e Moisés – Deus relaciona-se com as suas criaturas e quer que O conheçam e também conheçam os seus propósitos, pois Ele deseja nos chamar de amigos. Quando Deus disse a Moisés: “Agora, pois, deixa-me, para que o meu furor se acenda contra eles, e os consuma” Ex 32: 10, Ele estava dando a conhecer qual era a sua decisão diante de um povo culpado! Se o povo não houvesse pecado, estranho seria Deus avisar Moisés que haveria de destruir o povo. Se Deus agisse contrário a sua justiça, ai sim haveria uma mudança quanto a sua natureza; Ele não seria imutável. Mas, quando Deus deu a conhecer a sua justiça, Moisés clamou por misericórdia, e Deus passou a agir segundo o seu propósito Eterno: “Ele é longânime para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se” II Pe 3: 9. Moisés já havia experimentado a longanimidade de Deus no início de sua vida com Deus quando ele não circuncidou o seu filho conforme Deus ordenara. Ele poderia ter sido destruído instantaneamente, porém, Deus foi longânime com Moisés. Deus imutável não mudou, antes passou a agir segundo o seu propósito eterno: “...ignorando que a bondade de Deus te leva ao arrependimento?” Rm 2: 4. Deus em momento algum mudou! Ele sempre agirá segundo o seu propósito Eterno: salvar o pecador. Frente à intercessão de Moisés, Deus demonstra a sua bondade e concede o desejo de Moisés. Nisto está à imutabilidade de Deus: “Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro” Ex 32: 33, mas aquele que arrepender dos seus conceitos, verá a bondade do Senhor Rm 2: 4;

Deus é imutável quanto ao que propôs fazer na eternidade - “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” Gn 1: 26. Deus propôs fazer o homem, e isto não mudou. Deus propôs salvar o homem, e nem mesmo a necessidade de oferecer o seu Filho em sacrifício foi empecilho para por em prática a salvação dos homens. Para que o homem entenda que os propósitos de Deus são firmes N’Ele, por várias vezes Ele comunicou a sua vontade segundo a sua justiça ao povo: Vou destruir o povo caso não se arrependam, mas, caso o homem coloque a sua casa em ordem, será salvo, etc.


Segundo a justiça de Deus, um povo de dura servis seria destruído, mas, segundo o seu amor, ele retarda a sua ira para que os homens venham ao conhecimento da verdade: "Disse mais o SENHOR a Moisés: Tenho visto este povo, e eis que é povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles o meu furor, e eu os consuma; e de ti farei uma grande nação. Porém Moisés suplicou ao SENHOR, seu Deus, e disse: Por que se acende, SENHOR, a tua ira contra o teu povo, que tiraste da terra do Egito com grande fortaleza e poderosa mão?” Ex 32: 9- 11.

Enquanto Moises estava com Deus, ele estava cheio de compaixão. Mas, ao descer do monte e deparar-se com o que Deus conhecia plenamente, irou-se e passou a realizar o que Deus havia dito que faria: “Passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão” Ex 32: 27.

Depois Moisés apresenta-se diante de Deus é intercede: “Agora, peço-te, perdoa o seu pecado; ou, se não, risca-me do livro que escreveste” Ex 32: 32.

Diante deste pedido não há uma mudança na essência de Deus, visto que, quanto as suas decisões frente as suas criaturas, não consentiu com Moisés. Antes, disse: “Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro” (v. 33). Ou seja, nunca Deus riscaria o nome de Moisés por causa do pecado do povo.

Talvez Moisés não tenha percebido, mas ele pediu o impossível! Ele pediu que Deus imutável (que não toma o culpado por inocente), mudasse a sua maneira de agir com as suas criaturas (condenando Moisés, um inocente, em lugar de um povo culpado).

Diante destes vários aspectos podemos afirmar: Deus não muda em sua essência, mas decide de maneira diferente frente à conduta de suas criaturas! O Eterno não pode morrer! O imutável não pode mudar. Mas o imutável pode decidir de maneira diferente frente ao culpado e ao inocente.

Por não entenderem estes textos bíblicos sobre o arrependimento de Deus é que muitos questionam a imutabilidade de Deus. Mas, quando Deus realiza um milagre, porventura ele não muda?

Há leis pré-estabelecidas segundo o eterno poder de Deus, mas não questionamos quando Ele invalida estas leis para fazer um milagre as suas criaturas! Quando o tempo parou na batalha travada por Josué, Deus não estava alterando as suas leis?

Se Deus não fosse flexível quanto as suas decisões, ai sim, existiria destino, predestinação, etc.

O que vemos através desta análise? Deus é imutável na sua essência, mas ao culpado não tem por inocente. Isto demonstra por si só que Deus é flexível com suas criaturas, porém, Ele não muda em sua natureza: Ele é santo, justo e bom, mas também é fogo consumidor para aqueles que provocam a sua ira.

Deus imutável trata o culpado de uma maneira e o inocente de outra. Por isso, quando a bíblia diz que Deus arrependeu-se do mal que havia intentado, simplesmente a bíblia utilizou um conceito humano (linguagem) para descrever a maneira que Deus tratou aquele caso específico Ex 32: 14.

Frente ao pecado Deus agiria com retidão e justiça na decisão de destruir o povo. Após a intercessão de Moisés, Deus longânime concedeu ao povo outra grande oportunidade de salvação. Porém, o tempo passou, e Moisés também, e todo o povo pereceu no deserto.

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